Caso você seja daquelas pessoas que costuma evitar tudo sobre zumbis achando que é tudo ficção científica idiota ou romance obscuro destinado a adolescentes, cuidado: você pode se surpreender!
Falarei sobre "In the Flesh", uma minissérie de duas temporadas (a 1a tem apenas três episódios) da BBC América e que apesar de ser de 2013, só tive o prazer de descobrir recentemente, fuçando o pacote Claro TV que eu tenho. E à procura de alguma surpresa, eis que encontro uma produção que dá a chance de descobrir o quão bem escritos alguns desses programas de temática zumbi podem ser.
Fãs de séries como "The Walking Dead" devem saber que o gênero em questão não é o melhor para quem curte comer carne. É sobre pessoas e "não pessoas" que enfrentam desafios e decisões que ressoam no mundo real.
"In the flesh" pode ter cadáveres de olhos vazios, mas é muito mais que isso, é sobre tolerância, discriminação, relações familiares, sobre enfrentamentos, questionamentos e sobretudo, perdão.
A história se passa na Grã-Bretanha, onde algum tempo antes do início da série, muitas pessoas mortas saíram de seus túmulos, causando estragos e uma forte reação popular antizumbi. Mas estes seres -que sofrem da síndrome do Falecimento Parcial SFV, como foi rotulado - caíram na proteção do governo, que estabeleceu leis para assegurar seus cuidados e proteção como cidadãos vulneráveis, com alguns direitos resguardados.
Com a ajuda de medicamentos experimentais, eles estão sendo reintroduzidos na sociedade, de volta ao convívio familiar após apresentarem evolução significativa de seus quadros patológicos. Para isso, é necessário tomar a medição diariamente ou passam a regredir como um hidrofobico raivoso.
O nosso protagonista aqui é um adolescente um tanto depressivo chamado Kieren (Luke Newberry), que reside numa vila chamada Roarton, repleta de pessoas fervorosamente preconceituosas e antizumbis (podres).
Atormentado por memórias gráficas e remorso desde o momento em que ele sucumbiu aos seus desejos canibais, Kieren faz uso de seu remédio que suprime seu monstro interior. Isso permite seu retorno ao seio familiar nesta mesma comunidade hostil, governada pelo preconceito e pelo medo desses seres humanos reformados.
"In the flesh" ou "na carne", como seria o título se fosse passado para o Português, fica mesmo sob a pele enquanto ela explora o que é ser outro, o que para Kieren também significa aceitar como foi a sua morte, quatro anos antes. Essa jornada mais espiritual ressuscita seus sentimentos não resolvidos por seu melhor amigo e grande companheiro, Rick (David Walmsley), que foi morto no Exército. A história silenciosamente convincente ganha força quando Rick também retorna para casa - para um pai rude que lidera a violenta cruzada anti-zumbi local e está em profunda negação sobre a verdadeira natureza de seu filho que agora mais parece o Frankenstein.
Um exército miliciano foi formado durante esse primeiro "renascimento" para patrulhar e caçar estes seres, e poucos são os moradores que acolhem o retorno deles ali.
O fundador deste exército miliciano é justamente Bill (Steve Evets), o pai de Rick.
Já Kieren possui o amor de seus pais, mas enfrenta resistência com sua irmã caçula que ele tanto estima, (Harriet Cains) que é uma membro deste exército, uma soldado entusiasmada.
Bill tem uma animosidade particular em relação a Kieren que antecede ao levante daquela vila, mas logo é forçado a questionar o ódio que o alimenta.
Assistir "In the flesh" é ficar consternada com a quantidade de precedentes do mundo real que a história possui. A lista de pessoas que foram estigmatizadas, criticadas e rotuladas, na sociedade, de modo explícito ou velado, como sendo menos humano é longa e podemos citar os negros, os judeus, os estrangeiros, os LGBTs, pessoas portadoras de determinadas deficiências, ou de patologias como a hanseníase (lepra), ou mesmo o HIV, e sim, por que não zumbis, de modo não obstante, e a série muito atraente, criada e escrita por Dominic Mitchell, trabalha esse território com muita credibilidade quanto qualquer outro drama convencional.
Há mais? Sim, há muito mais a descobrir mergulhado "na carne", como resistência e superação, reflexões entre a morte e a vida, e seus fundamentos. Reparem que utlizei a expressão morte-vida propositalmente, pois nesse caso, a morte é a precursora de uma nova vida que se inicia a partir dela. Muitos vivos vivem como mortos, enterrados em seu cotidiano comodistas, e os mortos revolucionam com a ruptura dessa situação, induzindo a um despertar que de um modo ou de outro, todos precisam lidar.
Eu não poderia deixar de mencionar a trilha sonora da série que foi outra grata surpresa. Canções de Keaton Henson e o clássico. "Back for Good", de Take That, dão ainda mais vida à produção.
Dica dada, curte e fala.
Ficha Técnica:
In the Flesh
Seriado de TV,
Drama/terror
Produzida pela BBC America
Por Dominic Mitchell
Canto da Pettine
sábado, 2 de maio de 2020
quarta-feira, 25 de março de 2020
Sem saber por quê.
Sem saber por quê
Nosso caso virou caso antigo
Combinamos ser um casal
E hoje mal somos amigos.
Quando te encontrei
Deixei-me levar pela euforia
Esquecendo que a noite
Sempre chega
Depois que se acaba o dia.
Sem defesa fui fraca
Hoje colo os cacos do colo
Que você abusou.
Tudo agora é opaco
Mas vou sair do buraco
Que você me atirou.
Remoçarei 10 anos
Sem cometer mais enganos
Tudo ao normal voltará.
Minha'lma fragilizada
Ganhará de goleada
Quando nem saudade restar.
Nosso caso virou caso antigo
Combinamos ser um casal
E hoje mal somos amigos.
Quando te encontrei
Deixei-me levar pela euforia
Esquecendo que a noite
Sempre chega
Depois que se acaba o dia.
Sem defesa fui fraca
Hoje colo os cacos do colo
Que você abusou.
Tudo agora é opaco
Mas vou sair do buraco
Que você me atirou.
Remoçarei 10 anos
Sem cometer mais enganos
Tudo ao normal voltará.
Minha'lma fragilizada
Ganhará de goleada
Quando nem saudade restar.
sábado, 2 de março de 2019
Metade - o Amor que tudo preenche
Essa METADE, que fora um dos poemas que mais recitei nos saraus por aí, deixo novamente aqui, ao meu modo, por me revelar a alma e me tocar tão profundamente. Sou grata ao poeta Oswaldo, por decifrar a alma de outros poetas de modo tão singelo, singular e intenso. Eis a mim, transmutada em palavras de poesia:
Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio.
Que a morte de tudo em que acredito,
Não me tape os ouvidos nem a boca,
Porque metade de mim é o que eu grito,
Mas a outra metade é silêncio.
Que a música que ouço ao longe
Seja linda, ainda que tristeza,
Que a pessoa que amo seja pra sempre amada,
Ainda que distante,
Pois metade de mim é partida,
Mas a outra metade é saudade.
Que as palavras que falo
Não sejam ouvidas como prece,
nem repetidas com fervor,
Apenas RESPEITADAS como a única coisa
Que resta a um alguém inundado de sentimentos,
Porque metade de mim é o que ouço,
Mas a outra metade é o que calo.
Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que mereço,
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada,
Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância,
Porque metade de mim é a lembrança do que fui,
Mas a outra metade, não sei.
Que não seja preciso
Mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito,
E que o teu silêncio me fale cada vez mais,
Porque metade de mim é abrigo,
Mas a outra metade é cansaço.
Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela mesma não saiba,
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer,
Porque metade de mim é plateia,
A outra metade é canção.
E que a minha loucura seja perdoada
Pois metade de mim é AMOR,
E a outra metade também.
Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio.
Que a morte de tudo em que acredito,
Não me tape os ouvidos nem a boca,
Porque metade de mim é o que eu grito,
Mas a outra metade é silêncio.
Que a música que ouço ao longe
Seja linda, ainda que tristeza,
Que a pessoa que amo seja pra sempre amada,
Ainda que distante,
Pois metade de mim é partida,
Mas a outra metade é saudade.
Que as palavras que falo
Não sejam ouvidas como prece,
nem repetidas com fervor,
Apenas RESPEITADAS como a única coisa
Que resta a um alguém inundado de sentimentos,
Porque metade de mim é o que ouço,
Mas a outra metade é o que calo.
Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que mereço,
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada,
Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância,
Porque metade de mim é a lembrança do que fui,
Mas a outra metade, não sei.
Que não seja preciso
Mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito,
E que o teu silêncio me fale cada vez mais,
Porque metade de mim é abrigo,
Mas a outra metade é cansaço.
Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela mesma não saiba,
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer,
Porque metade de mim é plateia,
A outra metade é canção.
E que a minha loucura seja perdoada
Pois metade de mim é AMOR,
E a outra metade também.
sábado, 23 de fevereiro de 2019
Simbolismos de Branca de Neve
Este é um artigo interessante, e o compartilho aqui com todo respeito às crenças e verdades de muitos outros...
A quem possa servir, terá algum sentido e valor.
De quer modo, uma história pode ser apenas uma história, ou pode conter diversas histórias agregadas em si, em suas entrelinhas e muitos significados, e ainda assim, cada sujeito que se apropria de uma história, a ressignificando, agregando ainda seus próprios valores e olhares a ela, a mantem viva e a perpétua dessa maneira.
O LADO 'OCULTO' DE BRANCA DE NEVE E OS SETE ANÕES:
Talvez por Walt Disney ser um maçom, ele escolheu esse conto com muito carinho.
Branca de Neve representa o ser iniciado, que nasce na terra. Três mulheres, são representadas neste conto. A primeira, a sua mãe, que morreu quando ela nasceu, levando com ela todo o passado, todas as lembranças, representa o esquecimento quando descemos a esse plano, o passado. Ela, o presente a ser vivido. Sua Madrasta representa o futuro, o desafio, as provas por qual terá que passar.
O espelho é a consciência, na medida que o tempo passa, o corpo físico se degrada, esse confronto é inevitável: -“Espelho, espelho meu, existe alguém mais bela do que eu?”
O espelho sempre responderá: VOCÊ ONTEM, porque hoje estou mais velho, amanhã mais...
A Madrasta resolve mandar matar Branca de Neve, quer o seu coração, como prova da morte da pureza, da inocência, e Branca de Neve então foge pela floresta. Caso ficasse em seu castelo, não descobriria o seu interior, começa a iniciação, pois a floresta representa o INTERIOR de cada ser.
Neste caminho ela vai encontrar todos os elementos da natureza, e lidar com suas energias representada por SETE ANÕES.
Os anões são os centros vitais de forças, os CHAKRAS. O Mestre representa o coronário, ele é o chefe, a consciência espiritual; o Zangado representa o chakra Frontal, pois ele é racional, se baseia na lógica e no raciocínio, intelecto; o Feliz, representa o laríngeo, é o mais gordinho, tem relação com as glândulas tireoide, é comunicativo, alegre; o Dengoso, representa o cardíaco, é sentimental, emotivo, chorão, apaixonado; o Soneca, representa o chakra Umbilical, representa o inconsciente, instinto primitivo, o sono, emoções inferiores; Atchim representa o chakra esplênico (sexual), é o chakra responsável pelo filtro das energias nos órgãos sexuais, também responsável pelas alergias, ansiedades e finalmente o Dunga que representa o chakra radico, básico, raiz, representado pela inocência, pelo principio, o menino, o inicio da coluna vertebral, é o chakra dos instintos.
Na relação da história, Dunga foi o primeiro a ver Branca de Neve. Nota-se no conto que o Mestre é quem lapida as pedras preciosas. O Mestre confunde as palavras quando fica nervoso, é uma das características do Chakra Coronário quando tiver em mal funcionamento a confusão, o 'atrapalhamento' das idéias.
A branca de Neve conquista os Sete Anões, domina o Sete Mágica, domina os chakras, . O sete é também por excelência o número vibracional da mudança. Isso atrai para si, um confronto derradeiro, o lado negro surge trazendo o desafio crucial do interior. A bruxa representa esse lado negro, oculto, essa força inconsciente. A maça, o CONHECIMENTO. Provar o conhecimento significa morrer, dentro do esoterismo isso significa a MORTE INICIÁTICA.
Os anões a colocam num caixão de vidro, significando que ela está presa em si mesmo.
Surge então o Cavaleiro, uma figura até então indiferente na história, ele significa a energia masculina, a PINGALA, a energia Kundalini positiva, a ação, fazendo uma analogia com o Tarot, o cavaleiro é o carro, o caminho, a carta número 7, símbolo do fogo.
O beijo é o encontro da energia branca, negativa (Lua), feminina chamada de IDA da Kundalini, com a energia do fogo (Sol)e quando isso acontece o SER DESPERTA, ascende, transcende, conquista a si mesmo, levanta, se torna INTEGRAL.
Assim fecha a história da saga humana, um horizonte de luz, com um castelo nas nuvens. Um arco íris com um pote de ouro no final.
Referencias:
http://evoluasuaconsciencia.blogspot.com.br/2011/06/os-chakras.html
http://palavrasdoimaginario.blogspot.com.br/2009/04/simbolos-nos-contos-de-fadas.html
http://grimoiredomago.blogspot.com.br/2009/01/branca-de-neve-e-os-sete-anes.html
sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019
Gosto de aprender com os "loucos".
A maioria de meus ícones (da música, da literatura, da filosofia, da ciência…) já foram chamados de loucos. Sim, todos mal compreendidos por uma parcela de gente. Não me apetece uma parcela de gente. Me apetece o que nos coloca em consonância, além do tempo, o que me fez buscar e encontrar os vestígios destes "loucos" para lê-los, estudá-los, cultuá-los, absorver-lhes os fragmentos, trasmutar-lhes e continuar a tentativa infinita da busca, começada por eles e seguimentada por mim, que será infindável. Esses loucos ousaram e são lembrados porque quebraram barreiras, paradigmas, recordes, estatísticas, segmentos, probabilidades, tabus, entre outras coisas no tempo e espaço em que viveram. Isso os diferenciam dos demais. Então, um mero codinome de "louco" não retira a grandeza e proporção do que deixaram em legado. Até Jesus foi visto como um visionário "louco"; ser mal falado é coisa comum a quem rompe barreiras.
Quem levanta uma bandeira deve saber que precisa confrontar o vento para mantê-la hasteada.
E nunca sabemos de onde os ventos vão incindir mais fortes e nem quando. E não estaremos sempre prontos para isso. As bandeiras não permanecem hasteadas para sempre. Então, saber o limite das coisas é parte da compreensão da vida. Não viver a fugir do inevitável das coisas que virão, só por não saber quando vão lhe incindir. Esteja segurando o mastro, firme. E não vá além de suas forças, pois haverá outros a hastear outras bandeiras quando suas forças minarem.
A maioria de meus ícones (da música, da literatura, da filosofia, da ciência…) já foram chamados de loucos. Sim, todos mal compreendidos por uma parcela de gente. Não me apetece uma parcela de gente. Me apetece o que nos coloca em consonância, além do tempo, o que me fez buscar e encontrar os vestígios destes "loucos" para lê-los, estudá-los, cultuá-los, absorver-lhes os fragmentos, trasmutar-lhes e continuar a tentativa infinita da busca, começada por eles e seguimentada por mim, que será infindável. Esses loucos ousaram e são lembrados porque quebraram barreiras, paradigmas, recordes, estatísticas, segmentos, probabilidades, tabus, entre outras coisas no tempo e espaço em que viveram. Isso os diferenciam dos demais. Então, um mero codinome de "louco" não retira a grandeza e proporção do que deixaram em legado. Até Jesus foi visto como um visionário "louco"; ser mal falado é coisa comum a quem rompe barreiras.
Quem levanta uma bandeira deve saber que precisa confrontar o vento para mantê-la hasteada.
E nunca sabemos de onde os ventos vão incindir mais fortes e nem quando. E não estaremos sempre prontos para isso. As bandeiras não permanecem hasteadas para sempre. Então, saber o limite das coisas é parte da compreensão da vida. Não viver a fugir do inevitável das coisas que virão, só por não saber quando vão lhe incindir. Esteja segurando o mastro, firme. E não vá além de suas forças, pois haverá outros a hastear outras bandeiras quando suas forças minarem.
Eterna e mera aprendiz
Somos estatística.
Seremos estatística.
Mas as estatísticas tem lá o seu valor…
Se todos que partiram deixaram seus fragmentos,
Estes tem lá o seu valor.
Em algum momento, em algum tempo ou espaço alguém os absorve de alguma forma, mesmo que não saiba.
E segue numa insistência, no tempo, de dar conta de tudo dentro de tempo, mas sempre há mais...
Sou mesmo uma eterna aprendiz.
Aprendendo que o tempo nunca é o suficiente e que é preciso se dar um limite quando a vida te cobra além, quando tudo e todos te sugam além de seus limites, quando até Deus quer te dar um tempo e você está sendo consumida dentro dele.
É preciso que aprendam que Jesus também se cansou, também foi ao máximo de seu limite, também sofreu e que o amor não é só alegrias, pois ele não morreu sorrindo, mas foi em paz, sabendo que o que seria aprendido além de Sua vinda, caberia ao tempo e aos que ficariam na posteridade, a colocar em prática o que Ele veio ensinar. Afinal, de que valeria todo sacrifício se não fosse para os aprendizes colocarem em prática no exemplo o que Ele deixou?
Ele também foi limitado dentro de seu tempo, na sociedade que não o compreendia e liberto em sua alma, pelo Pai que Ele sabia que existia e mais ninguém, só Ele. Imaginem que tristeza, você viver no mundo tendo uma verdade sem ninguém mais crêr em você!?!? Viver pregando isso e cultuando quem cresse Nele pela fé, pois acreditar em algo ou alguém é um puro ato de Fé! E crêr num improvável, "louco", que pregava coisas distintas dos demais e além de seu tempo, que solidão! E só em Deus tinha o conforto! Até seus familiares chegaram a duvidar… Pois é. Aqueles que vierem a querem agradar a todos, sempre se frustrarão. A quem você quer atingir? Busque saber se você quer direcionar algo importante a alguém, a algum grupo em comum, sabendo que sempre terá uma oposição firme contra você, e se mantenha no foco até o fim, pois é sua resistência que está sendo testada em sua força, e nela que se transcende, e que se aprende. E não se passa por aqui sem aprender algo. Mais vale aprender que ensinar, pois não sabemos se o que ensinamos será válido a alguém, mas sabemos o que podemos aprender e tirar de valor das experiências vividas aqui.
Seremos estatística.
Mas as estatísticas tem lá o seu valor…
Se todos que partiram deixaram seus fragmentos,
Estes tem lá o seu valor.
Em algum momento, em algum tempo ou espaço alguém os absorve de alguma forma, mesmo que não saiba.
E segue numa insistência, no tempo, de dar conta de tudo dentro de tempo, mas sempre há mais...
Sou mesmo uma eterna aprendiz.
Aprendendo que o tempo nunca é o suficiente e que é preciso se dar um limite quando a vida te cobra além, quando tudo e todos te sugam além de seus limites, quando até Deus quer te dar um tempo e você está sendo consumida dentro dele.
É preciso que aprendam que Jesus também se cansou, também foi ao máximo de seu limite, também sofreu e que o amor não é só alegrias, pois ele não morreu sorrindo, mas foi em paz, sabendo que o que seria aprendido além de Sua vinda, caberia ao tempo e aos que ficariam na posteridade, a colocar em prática o que Ele veio ensinar. Afinal, de que valeria todo sacrifício se não fosse para os aprendizes colocarem em prática no exemplo o que Ele deixou?
Ele também foi limitado dentro de seu tempo, na sociedade que não o compreendia e liberto em sua alma, pelo Pai que Ele sabia que existia e mais ninguém, só Ele. Imaginem que tristeza, você viver no mundo tendo uma verdade sem ninguém mais crêr em você!?!? Viver pregando isso e cultuando quem cresse Nele pela fé, pois acreditar em algo ou alguém é um puro ato de Fé! E crêr num improvável, "louco", que pregava coisas distintas dos demais e além de seu tempo, que solidão! E só em Deus tinha o conforto! Até seus familiares chegaram a duvidar… Pois é. Aqueles que vierem a querem agradar a todos, sempre se frustrarão. A quem você quer atingir? Busque saber se você quer direcionar algo importante a alguém, a algum grupo em comum, sabendo que sempre terá uma oposição firme contra você, e se mantenha no foco até o fim, pois é sua resistência que está sendo testada em sua força, e nela que se transcende, e que se aprende. E não se passa por aqui sem aprender algo. Mais vale aprender que ensinar, pois não sabemos se o que ensinamos será válido a alguém, mas sabemos o que podemos aprender e tirar de valor das experiências vividas aqui.
sábado, 16 de fevereiro de 2019
Um pedacinho da infância...
Por um tempo, por alguns anos, eu tive um pai, desses de fato, não um pai só de copular (tb tive um calhorda desse...), mas um pai de dar afeto, amor, ensinamentos…Tive momentos felizes na minha breve infância junto de minha mãe, deste pai de alma e coração e de minhas irmãs.
A felicidade não estava aqui. Ficava em outra cidade, ela morava numa vila, numa casa com quintal, e eu com ela rodeada de crianças a compartilhar brincadeiras, festas de ruas na vila, histórias perto da fogueira, andar de bicicleta, rolês de patins, treinar o que eu seria no futuro brincando de escolinha...
Descobri o valor da amizade, a sensação de ser criança em segurança naquela vila, estudando na melhor escola do mundo (ao menos para mim, sempre será a mais importante de todas).
Breves momentos felizes que muito significaram e significam, que delinearam minha essência, que são refúgios, momentos bons aos quais busco me remeter quando preciso buscar abrigo em mim.
Nada retira da pessoa suas vivências, suas experiências que são únicas. Apenas eu sei o valor que cada coisa que vivi teve a mim.
Eu nem sabia que teria irmãs. Mas elas vieram e foi muito bom. Tínhamos crianças por todos os lados ali.
Mas quando éramos retiradas do "porto seguro", tudo de mal ocorria e a vulnerabilidade era plena.
Uma mente de criança jamais pode compreender o que é uma briga de casal, nem por que elas acontecem. Muitas vezes, não víamos nada. Éramos poupadas de tudo, preservadas, as brigas ficavam entre eles, e logo se resolviam.
Mas ao estar fora dali a gravidade tomava outras proporções. E o que minha mãe pensava ser refúgio, era armadilha. A família em quem ela buscava apoio, na qual achava que tinha, de fato, não tinha, e seu próprio pai foi a desgraça de toda a sua geração e a maldição das que viriam. Antes tivesse se assentado ali mesmo, se resolvido por telefone, arrumado uma psicóloga quando discutia...
Mas ao buscar abrigo na mãe que vivia seguindo cegamente o marido, sendo a casa dele, casa do pai dela (meu avô materno), tudo se arruinava.
Nada NUNCA deu certo na casa do pai que amaldiçoa a própria filha, de um misógino.
Mas lá na vila que eu amava, onde ela muitas vezes sentia saudades da
mãe dela, e onde foi tb feliz, ela teve um momento de grande amargura que jamais sairá de minha memória, que comoveu a muitos com sua força e fé, com um AMOR que só uma mãe pode nutrir.
A outra filha que tivera sofreu um acidente caindo da escada e os médicos disseram que ela não teria mais os dentes, que era algo grave...era muito pequena, uma bebê ainda…os dentes novos, e mesmo a bebê já começando a falar, não falava mais e isso retardaria sua fala. Após isso, só jorrava sangue, uma hemorragia absurda, que exigiu cada gota de esforço que uma mãe é capaz de dar.
A mãe que já não dormia, que só vagava, como zumbi, com uma filha nos braços, toda dolorida, e com toalhas no ombro, encharcadas de sangue. Se dormisse, a menina poderia sufocar e perder a vida, e essa culpa ela não iria carregar...
Não, ninguém revezava com ela, por mais que pedisse.
Andava dias e noites, e começaram a achar que estava delirando. Ela falava em Deus, em milagre, que pagaria a promessa se tivesse a certeza de que sua filha seria plenamente curada. Ninguém acreditava.
Eu não tinha o que fazer. Só assistia a tudo, impotente, triste, e depois, no outro dia, me chamavam pra brincar, pra "esquecer" um pouco aquela visão constante. Eu ia. Mas quando retornava, lá estava uma mãe que só orava e chorava com uma filha no colo há dias, semanas…Ela não a largava por nada, mesmo fraca e sem forças.
Se eu tivesse uma mente mais evoluída, talvez tivesse feito algo a mais para suprir, mas eu era limitada…Eu dizia que tudo ia dar certo, pra ter calma, não sei se isso ajuda em algo...
Ninguém quis assumir a culpa pelo ocorrido, e culpabilizaram a minha própria mãe por não estar por perto quando a filha caiu…Uma lástima.
Minha mãe tinha pânico de dirigir (eu tb não gosto muito…), mas ela temia passar por pontes, era uma fobia. Ela achava que nunca iria passar por uma ponte, então, preferia evitar dirigir para não encontrar uma pelo caminho…
Mas ali ela dizia:"Eu pego o meu carro sim, e vou dirigindo sim até Aparecida do Norte sim, pela minha filha sim, eu enfrento qualquer coisa sim, porque eu sei que se eu enfrentar, ela será curada sim. Isso é pra me testar? Eu vou fortalecer minha fé!"
E ficava assim.
Ela não pegava no carro há muito tempo e só quem dirigia era nosso pai.
Então ela teve um sonho. Podem achar que seja um sonho qualquer de quem está muito a pensar em algo. Mas para ela que sabe o que sentia e o que estava vivenciando não era. O sonho foi lúcido e ela o contou. Ela disse que era chegado o momento de ir pra viagem até Aparecida do Norte. Ela não iria sozinha, mas no carro não levaria ninguém que soubesse dirigir, não teria ninguém que a socorresse em caso de algo ocorrer…
Foi minha primeira e única viagem de carro com minha mãe.
Ela levou a sogra, que eu tb chamava de vó no banco da frente (essa vó era crente), e atrás estavam as filhas.
A minha irmã não estava curada ainda, não naquele momento, ainda não falava, ainda não tinha dentes, ainda babava, com sequelas do acidente na escada…Mas ela "sentiu" que aquele seria o momento e se nutriu de coragem e certo receio e fomos.
Ela rezou no carro antes, pediu proteção a Deus e a padroeira Nossa Senhora Aparecida e seguimos…
Ela só olhava pra frente, aflita ao dirigir, parecia um robô. A vó tentava acalmar.
A viagem foi longa.
E sim, havia uma ponte…
Quando ela surgiu, o carro parou de supetão, e acordei. Vi que era uma ponte a frente. Não muito longa. E ela começou a entrar em pânico.
"Não tem como voltar agora. Você consegue. Já estamos aqui. É só ir devagar." Disse a sogra.
Foi um tempo nisso. Um tempo de respirar, de chorar, se recompor e seguir, pois sabia que não tinha volta e que o único caminho a seguir era adiante.
Ao passar a ponte, nova parada. Agora para chorar por ter conseguido o feito improvável. Mais uma oração de agradecimento que a fortaleceu. E seguimos.
Quando chegamos, fomos direto para o local onde se coloca os nomes para pedir os milagres. Ela acendeu velas enormes, se ajoelhou, ficou lá um tempão e eu observando o local, admirada com tudo ali, tudo novidade para mim.
Eu desde então, nunca retornei aquele local.
Ela tinha pressa de voltar antes de escurecer.
Fomos até a catedral, ela pediu para que o padre abençoasse a filha, ungiu com água benta, e fez questão de comprar lembranças de que esteve ali, colocando no carro itens de proteção. Tinha terço, imãs de Nossa Senhora, cartilhas de oração…e retornamos.
Só assim, ela foi retornando um pouco mais a vida, crendo que o milagre da cura viria, que ela já teria pago tudo, e que faltaria só receber o milagre no momento que devesse ser provido. Ela tinha muita fé.
Poucos anos adiante, ao retornar a casa do pai dela, desgraçamento ocorreu comigo, e o dilema foi tão intenso que não houve outro jeito de salvar a família (aos demais membros da família) a não ser tirando a própria vida, em ato de desespero, pois toda saída seria trágica e ela buscaria a menos trágica…
O que uma mãe não faz pelos filhos!
Não existe nenhum limite que determine até onde uma mãe possa ir e agir por amor a um filho.
Uma mãe serve a 10 filhos, mas 10 filhos não servem a uma mãe porque filho pensa como filho, não como mãe. É comum a incompreensão e a ingratidão de filhos, filhos guardam mágoas, mães não!
Mães amam incondicionalmente.
Literalmente, elas dão a vida por seus filhos.
Após sua partida, os dentes de minha irmã nasceram, lindos e fortes. A cura foi plena mesmo. Ela não estava aqui para contemplar. Mas sempre soube que isso iria ocorrer.
É comum mães sempre terem mais fé que os filhos… Não que seja uma regra, mas é mais comum. E filhos, guardam poucos momentos bons e cultuam muitas coisas ruins, em geral, que não compreendem, por isso ainda ficam ali dentro existindo.
A compreensão exige esforço, empatia, vontade.
Existem várias versões de um fato e cada um sente e vivência a seu modo. Buscar compreender aos outros e respeitar as ações alheias é fundamental para o crescimento espiritual de todos os humanos.
Ainda sobre essa pessoa com a qual me pareço tanto que é minha mãe... Incrível como ela sempre dava credibilidade às pessoas também. Mesmo vendo a maldade, ela não acreditava…o pai sendo misógino, violento, preconceituoso, patriarca da família, dominador, ela acreditava q era amada…mesmo ele dizendo que "queria um filho homem" e assim, quando ela teve seu filho, este foi retirado dela e ele não permitiu que ela levasse pra morar com ela e o criou como se ele fosse o filho dele.
Disse q garantiria o futuro dele, que ele seria "o filho q ele não teve" e de fato, ele o tratou em berço de ouro e minha mãe teve mais três filhas…eu a seguir, plenamente amaldiçoada por ele.
Ela vinha na casa do pai tb pra ver o filho, mas só podia ver, não podia sair com ele…o pai dela não deixava.
Como pode ela aceitar essas condições. Estes tempos de outrora me revoltam... Mas os tempos atuais tb tem me revoltado.
E o filho dela que virou filho de meu avô, que não foi criado como meu irmão, saiu bem do jeito dele, misógino, preconceituoso, abominável, indiferente ao resto do mundo, e claro, sem amor algum a mãe a as irmãs. Lamentável.
Ele teve boas escolas, fez cursos diversos, virou um ícone egocêntrico de saber inútil, para a que a "mulher impura" que teve que ralar nas escolas públicas da vida, correndo atrás de bolsas de estudo ter de sustentar a todos até hoje e sendo mal falada, criticada. Pois é. Cumpro as funções, vivo conforme a maré, deste mundo não espero Justiça dos homens, pois sei que tenho a de Deus. E sou plenamente abençoada por ela e sou MUITO grata por isso.
Posso deitar minha cabeça no travesseiro sentindo muitas coisas, menos culpa, remorso, dor na consciência. Sei que tenho feito o máximo que posso dentro das limitações que a vida me colocou. Eu sendo mulher numa família onde as mulheres sofrem tanto…
Fora que sempre foram racistas... Até meus amigos negros são mal falados e eu criticada apenas por tê-los como amigos. Imaginem se minha mãe tivesse tido filhos com um negro e eu fosse essa mistura…sofreria ainda mais. Ela gostava do cantor Luís Melodia que meu avô abominava. Lembrei disso. Ela era inconformada com as injustiças também, por isso foi ser assistente social, achando que poderia fazer um pouco de diferença nesse mundo.
Meu avô era índio, nem por isso abomino os índios. Mas tenho abominado aos homens, pois são raridades os que seguem os preceitos de bem e conseguem evoluir neste mundo, com respeito e amor ao próximo. Exalto aos bons. Tudo o que o mundo prover de bom, deve ser de conhecimento da humanidade, já dizia Einstein e concordo com isso. Não é questão de não falhar, isso todos fazem, mas de ser bom em essência, de ter a capacidade de se arrepender, reconhecer e reparar a maldade que geram e de buscar ser melhor. Essa virtude é para poucos, uma virtude raríssima.
A felicidade não estava aqui. Ficava em outra cidade, ela morava numa vila, numa casa com quintal, e eu com ela rodeada de crianças a compartilhar brincadeiras, festas de ruas na vila, histórias perto da fogueira, andar de bicicleta, rolês de patins, treinar o que eu seria no futuro brincando de escolinha...
Descobri o valor da amizade, a sensação de ser criança em segurança naquela vila, estudando na melhor escola do mundo (ao menos para mim, sempre será a mais importante de todas).
Breves momentos felizes que muito significaram e significam, que delinearam minha essência, que são refúgios, momentos bons aos quais busco me remeter quando preciso buscar abrigo em mim.
Nada retira da pessoa suas vivências, suas experiências que são únicas. Apenas eu sei o valor que cada coisa que vivi teve a mim.
Eu nem sabia que teria irmãs. Mas elas vieram e foi muito bom. Tínhamos crianças por todos os lados ali.
Mas quando éramos retiradas do "porto seguro", tudo de mal ocorria e a vulnerabilidade era plena.
Uma mente de criança jamais pode compreender o que é uma briga de casal, nem por que elas acontecem. Muitas vezes, não víamos nada. Éramos poupadas de tudo, preservadas, as brigas ficavam entre eles, e logo se resolviam.
Mas ao estar fora dali a gravidade tomava outras proporções. E o que minha mãe pensava ser refúgio, era armadilha. A família em quem ela buscava apoio, na qual achava que tinha, de fato, não tinha, e seu próprio pai foi a desgraça de toda a sua geração e a maldição das que viriam. Antes tivesse se assentado ali mesmo, se resolvido por telefone, arrumado uma psicóloga quando discutia...
Mas ao buscar abrigo na mãe que vivia seguindo cegamente o marido, sendo a casa dele, casa do pai dela (meu avô materno), tudo se arruinava.
Nada NUNCA deu certo na casa do pai que amaldiçoa a própria filha, de um misógino.
Mas lá na vila que eu amava, onde ela muitas vezes sentia saudades da
mãe dela, e onde foi tb feliz, ela teve um momento de grande amargura que jamais sairá de minha memória, que comoveu a muitos com sua força e fé, com um AMOR que só uma mãe pode nutrir.
A outra filha que tivera sofreu um acidente caindo da escada e os médicos disseram que ela não teria mais os dentes, que era algo grave...era muito pequena, uma bebê ainda…os dentes novos, e mesmo a bebê já começando a falar, não falava mais e isso retardaria sua fala. Após isso, só jorrava sangue, uma hemorragia absurda, que exigiu cada gota de esforço que uma mãe é capaz de dar.
A mãe que já não dormia, que só vagava, como zumbi, com uma filha nos braços, toda dolorida, e com toalhas no ombro, encharcadas de sangue. Se dormisse, a menina poderia sufocar e perder a vida, e essa culpa ela não iria carregar...
Não, ninguém revezava com ela, por mais que pedisse.
Andava dias e noites, e começaram a achar que estava delirando. Ela falava em Deus, em milagre, que pagaria a promessa se tivesse a certeza de que sua filha seria plenamente curada. Ninguém acreditava.
Eu não tinha o que fazer. Só assistia a tudo, impotente, triste, e depois, no outro dia, me chamavam pra brincar, pra "esquecer" um pouco aquela visão constante. Eu ia. Mas quando retornava, lá estava uma mãe que só orava e chorava com uma filha no colo há dias, semanas…Ela não a largava por nada, mesmo fraca e sem forças.
Se eu tivesse uma mente mais evoluída, talvez tivesse feito algo a mais para suprir, mas eu era limitada…Eu dizia que tudo ia dar certo, pra ter calma, não sei se isso ajuda em algo...
Ninguém quis assumir a culpa pelo ocorrido, e culpabilizaram a minha própria mãe por não estar por perto quando a filha caiu…Uma lástima.
Minha mãe tinha pânico de dirigir (eu tb não gosto muito…), mas ela temia passar por pontes, era uma fobia. Ela achava que nunca iria passar por uma ponte, então, preferia evitar dirigir para não encontrar uma pelo caminho…
Mas ali ela dizia:"Eu pego o meu carro sim, e vou dirigindo sim até Aparecida do Norte sim, pela minha filha sim, eu enfrento qualquer coisa sim, porque eu sei que se eu enfrentar, ela será curada sim. Isso é pra me testar? Eu vou fortalecer minha fé!"
E ficava assim.
Ela não pegava no carro há muito tempo e só quem dirigia era nosso pai.
Então ela teve um sonho. Podem achar que seja um sonho qualquer de quem está muito a pensar em algo. Mas para ela que sabe o que sentia e o que estava vivenciando não era. O sonho foi lúcido e ela o contou. Ela disse que era chegado o momento de ir pra viagem até Aparecida do Norte. Ela não iria sozinha, mas no carro não levaria ninguém que soubesse dirigir, não teria ninguém que a socorresse em caso de algo ocorrer…
Foi minha primeira e única viagem de carro com minha mãe.
Ela levou a sogra, que eu tb chamava de vó no banco da frente (essa vó era crente), e atrás estavam as filhas.
A minha irmã não estava curada ainda, não naquele momento, ainda não falava, ainda não tinha dentes, ainda babava, com sequelas do acidente na escada…Mas ela "sentiu" que aquele seria o momento e se nutriu de coragem e certo receio e fomos.
Ela rezou no carro antes, pediu proteção a Deus e a padroeira Nossa Senhora Aparecida e seguimos…
Ela só olhava pra frente, aflita ao dirigir, parecia um robô. A vó tentava acalmar.
A viagem foi longa.
E sim, havia uma ponte…
Quando ela surgiu, o carro parou de supetão, e acordei. Vi que era uma ponte a frente. Não muito longa. E ela começou a entrar em pânico.
"Não tem como voltar agora. Você consegue. Já estamos aqui. É só ir devagar." Disse a sogra.
Foi um tempo nisso. Um tempo de respirar, de chorar, se recompor e seguir, pois sabia que não tinha volta e que o único caminho a seguir era adiante.
Ao passar a ponte, nova parada. Agora para chorar por ter conseguido o feito improvável. Mais uma oração de agradecimento que a fortaleceu. E seguimos.
Quando chegamos, fomos direto para o local onde se coloca os nomes para pedir os milagres. Ela acendeu velas enormes, se ajoelhou, ficou lá um tempão e eu observando o local, admirada com tudo ali, tudo novidade para mim.
Eu desde então, nunca retornei aquele local.
Ela tinha pressa de voltar antes de escurecer.
Fomos até a catedral, ela pediu para que o padre abençoasse a filha, ungiu com água benta, e fez questão de comprar lembranças de que esteve ali, colocando no carro itens de proteção. Tinha terço, imãs de Nossa Senhora, cartilhas de oração…e retornamos.
Só assim, ela foi retornando um pouco mais a vida, crendo que o milagre da cura viria, que ela já teria pago tudo, e que faltaria só receber o milagre no momento que devesse ser provido. Ela tinha muita fé.
Poucos anos adiante, ao retornar a casa do pai dela, desgraçamento ocorreu comigo, e o dilema foi tão intenso que não houve outro jeito de salvar a família (aos demais membros da família) a não ser tirando a própria vida, em ato de desespero, pois toda saída seria trágica e ela buscaria a menos trágica…
O que uma mãe não faz pelos filhos!
Não existe nenhum limite que determine até onde uma mãe possa ir e agir por amor a um filho.
Uma mãe serve a 10 filhos, mas 10 filhos não servem a uma mãe porque filho pensa como filho, não como mãe. É comum a incompreensão e a ingratidão de filhos, filhos guardam mágoas, mães não!
Mães amam incondicionalmente.
Literalmente, elas dão a vida por seus filhos.
Após sua partida, os dentes de minha irmã nasceram, lindos e fortes. A cura foi plena mesmo. Ela não estava aqui para contemplar. Mas sempre soube que isso iria ocorrer.
É comum mães sempre terem mais fé que os filhos… Não que seja uma regra, mas é mais comum. E filhos, guardam poucos momentos bons e cultuam muitas coisas ruins, em geral, que não compreendem, por isso ainda ficam ali dentro existindo.
A compreensão exige esforço, empatia, vontade.
Existem várias versões de um fato e cada um sente e vivência a seu modo. Buscar compreender aos outros e respeitar as ações alheias é fundamental para o crescimento espiritual de todos os humanos.
Ainda sobre essa pessoa com a qual me pareço tanto que é minha mãe... Incrível como ela sempre dava credibilidade às pessoas também. Mesmo vendo a maldade, ela não acreditava…o pai sendo misógino, violento, preconceituoso, patriarca da família, dominador, ela acreditava q era amada…mesmo ele dizendo que "queria um filho homem" e assim, quando ela teve seu filho, este foi retirado dela e ele não permitiu que ela levasse pra morar com ela e o criou como se ele fosse o filho dele.
Disse q garantiria o futuro dele, que ele seria "o filho q ele não teve" e de fato, ele o tratou em berço de ouro e minha mãe teve mais três filhas…eu a seguir, plenamente amaldiçoada por ele.
Ela vinha na casa do pai tb pra ver o filho, mas só podia ver, não podia sair com ele…o pai dela não deixava.
Como pode ela aceitar essas condições. Estes tempos de outrora me revoltam... Mas os tempos atuais tb tem me revoltado.
E o filho dela que virou filho de meu avô, que não foi criado como meu irmão, saiu bem do jeito dele, misógino, preconceituoso, abominável, indiferente ao resto do mundo, e claro, sem amor algum a mãe a as irmãs. Lamentável.
Ele teve boas escolas, fez cursos diversos, virou um ícone egocêntrico de saber inútil, para a que a "mulher impura" que teve que ralar nas escolas públicas da vida, correndo atrás de bolsas de estudo ter de sustentar a todos até hoje e sendo mal falada, criticada. Pois é. Cumpro as funções, vivo conforme a maré, deste mundo não espero Justiça dos homens, pois sei que tenho a de Deus. E sou plenamente abençoada por ela e sou MUITO grata por isso.
Posso deitar minha cabeça no travesseiro sentindo muitas coisas, menos culpa, remorso, dor na consciência. Sei que tenho feito o máximo que posso dentro das limitações que a vida me colocou. Eu sendo mulher numa família onde as mulheres sofrem tanto…
Fora que sempre foram racistas... Até meus amigos negros são mal falados e eu criticada apenas por tê-los como amigos. Imaginem se minha mãe tivesse tido filhos com um negro e eu fosse essa mistura…sofreria ainda mais. Ela gostava do cantor Luís Melodia que meu avô abominava. Lembrei disso. Ela era inconformada com as injustiças também, por isso foi ser assistente social, achando que poderia fazer um pouco de diferença nesse mundo.
Meu avô era índio, nem por isso abomino os índios. Mas tenho abominado aos homens, pois são raridades os que seguem os preceitos de bem e conseguem evoluir neste mundo, com respeito e amor ao próximo. Exalto aos bons. Tudo o que o mundo prover de bom, deve ser de conhecimento da humanidade, já dizia Einstein e concordo com isso. Não é questão de não falhar, isso todos fazem, mas de ser bom em essência, de ter a capacidade de se arrepender, reconhecer e reparar a maldade que geram e de buscar ser melhor. Essa virtude é para poucos, uma virtude raríssima.
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