quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

O homenageado sabe quem é


Em teu nome conjugado
Fez-se a paz que, de meu lado
Há muito, não queria estar.

Só de ter lhe encontrado,
Alterou-se o meu estado
E tudo em mim fez mudar.

Num brio sem muita semelhança
Encontrei a esperança
Que não esperava ter.

Notei mais coincidências
Indo além das aparências
E assim pude lhe ver.

Nem tão diferentes somos
Dos demais que também amam
Sem que conta disso dêem.

De ideais que nos permeiam
Talvez faremos nosso enredo
Apostando num acerto.

Acertado foi o encontro
Do destino entre um e outro
Já selado de antemão.

Parodoxando o tempo
Fez notar um elemento
De fé estranha então ali.

Desencontros casuais
Se fizeram cruciais
Para tudo suceder.

De outro jeito diferente
Não seria evidente
Tal acaso ocorrer.

E mais uma vez num canto
Onde o canto se faz centro
O som foi nos envolver.

Apostando no incerto
Num sonho que se acha certo
Eu nem quero mais sonhar.

Mas melhor do que a utopia
Do que possa vir a ser um dia
Seria poder realizar

Agora e enquanto for possível
Dizer o que está contido
Sem sentimento reter.

Me revelo por palavras
Declarando-me encantada,
Envolvida por você.

Pode querer dizer nada
Pode parecer piada
Ou peça do coração,

Mas por hora é o que move
Que motiva e me consome
E sinto que isso é bom.

Não precisa dizer nada
Só receba a já esperada
Investida da razão

Com meu apreço a ti e doada
Nem tão racionalizada
Por brotar-me do coração.

Permita-se a experimentar
Outras coisas, apesar
De sentir eu te amar
Pois isso é certo que o concreto
Do que houve vai acabar
Mesmo antes de se edificar.

Será mesmo passageira
Qualquer calma que não queira
Se manter só em afeição,

Pois ao ceder espaço ao tênue
Elo sutil do desejo,
Transmutando-se em beijo
A paz pos-se ao chão.

Livre arbítrio do momento
Ceder ao acalento
Do carente coração

Também tem valor pra alma
Esse fogo que se apaga
Enquanto chama acesa for.

Tudo sempre é relativo
E te digo, meu amigo,
Desculpe agora por me expor.

Mas sentindo no momento
O sentimento vira texto
E se eterniza em você.

Repleta de incertezas
E certa que duvidará das proezas
Que possa ocorrer,

Vou findando aqui por hora
Sem encerrar nossa história
Que ainda está por se escrever.

Resultado II Concurso de Poesia SPA

http://RESULTADO DO II PRÊMIO DE POESIA SPA 2018 - Tema: AMIZADE

MODALIDADES:

INFANTOJUVENIL GERAL
1 – “Anjos” - Maria Irmany de Sales Ribeiro, São Paulo / SP
2 – “Intimidade” - Tainara Silva Almeida, Diamantina / MG
3 – “A bênção, Conrado” - José Rodrigues do N. NetoRio de Janeiro / RJ

Anjos – Maria Irmany de Sales Ribeiro (Primeiro lugar)

Meus anjos têm nome, idade e sonhos.
Têm nos céus a crença e na Terra, a esperança. 
Descobrem o meu sorriso e o fazem eterno, 
já que a eternidade já não é mais um sonho para nós.

Meus amigos são o meu alicerce, o meu abrigo.
A morada do meu carinho, a liberdade em meu coração.
Desejo que o tempo pare por um segundo
para que eu os tenha para sempre ao meu lado. 

Não sinto mais a chuva da amargura,
o vento frio da tristeza não me traz arrepios,
pois quando o brilho da fé renasceu em meu âmago,
percebi que nunca mais choraria com a solidão.

Caí no abismo dos rancores e dos suplícios,
mas ao longe escutei o ruído das risadas ternas.
Os anjos me resgataram, me iluminaram. E nunca mais vivi sem razão. 
  
Intimidade – Tainara S. Almeida (Segundo lugar)

Diante de ti, despi minh'alma.
Convidei-te a penetrar meus sentimentos.
Mostrei-te meu lado obscuro.
Revelei-te segredos obscenos.
Permiti que adentrastes meu íntimo.

Ofereci meu colo para que descansasses.
Dei-te meu ombro para que chorasses.
Fiz de ti meu porto seguro.
Juntas, vencemos o mundo.

Hoje olhas por mim aí de cima.
Aqui embaixo, choro tua ausência.
Mas sei que entre nós nada mudou.

Pois amizade não é presença.
É um estado de permanência.
É sobre quem foi, mas no peito ficou.

A bênção, Conrado - José Rodrigues do N. Neto (Terceiro lugar)

Da vida carrego o abraço tenro,
Da criança nascida em inocência.
Sopro em pureza, recém em tempo,
Amizade utópica: leveza na essência.

Afaga-me, Ser, ouça-me em sua derme.
Ó amigo sincero, com qual feliz lapido,
Cintilante amizade. Mente que aquece.
O Ser genuíno; sincero monge, sabido.

Corroer-te-ás neste mundo, devaneado.
Companheiro, não siga! Pra que crescer?
Questiono-te: serás o mesmo, Conrado?

Tu mudaste, confesso, vi-te morrer.
Tua amizade, ó anjo levado, guardo,
Tu em Céu, eu na Terra: um só Ser.


  
ADULTO GERAL
1 – “Meus amigos” - André Felipe Soares Foltran, São José do Rio Preto / SP 
2 – “Ode Alexandrina Victorina à amiga ampulheta”- Carlos Brunno S. Barbosa, Valença / RJ
3 -- “Amizade de luz” - Priscila Pettine, Bela Vista / SP
4 – “Minha amizade” - Sérgio Bernardo, Nova Friburgo / RJ
5 – “Saudosa amizade” - Márcia Jáber Juiz de Fora / MG



Meus amigos - André Foltran (Primeiro lugar)

Sobre o tema amizade outros cantaram
a comunhão das almas. Mas eu não:
meus melhores amigos se mataram
— ficaram uns em decomposição.

Todos os meus amigos fracassaram,
não chegaram ao primeiro milhão.
Os filhos que tiveram não vingaram,
frutos podres de estranha geração.

Meus amigos, nunca eles se casaram
(nem fui eu a quebrar tal maldição).
Toda noite, os que não suicidaram

vêm à minha decrépita mansão
esquartejar a vida — acho, preparam
um monumento à Grande Depressão.


Ode Alexandrina Victorina à amiga ampulheta-Carlos Brunno S. Barbosa (Segundo lugar)

Saudosa ampulheta, meu remoto relógio
de areia das praias da Região dos Lagos,
cujo escorrer para tantos é implacável,
venho nesta ode negar-te o ar de necrológio.
És comparte longeva das terras que afago;
como poeta, oferto a ti adjetivo amável:
és amiga da arte, a ela dás todo apanágio,
em teu fluxo sossegado de tempo eu vago
e divago essa efemeridade infindável.

Fluminense ampulheta, ancestral companheira,
sócia das areias de São Pedro da Aldeia,
ao teu lado, é mais suave a brevidade,
por isso peço-te: aceita esta ode praieira
em homenagem à nossa eterna amizade.


Amizade de luz - Priscila Pettine (Terceiro lugar)

O carinho recebido em plena paz,
Ao seio d'alma ansiosa na amargura,
É semente que bom fruto traz,
É centelha que em sol se transfigura.

Semente fértil, de virtude rara,
Quantos frutos por aí produz...
Aprumando a mente de qualquer amarra,
Um amigo salva-lhe trazendo a luz.

Bendito aquele que tão fortuito faz
Da amizade, a exemplar semeadura,
Aos lugares de treva pertinaz
De onde se esparge a luz que mais fulgura.


Minha amizade - Sérgio Bernardo (Quarto lugar)

Não vou alimentar sua tristeza
dando-lhe mágoa e solidão na boca.
Nem concordar que sua vida é oca,
nem aceitar que a luz não foi acesa.

Não quero ouvir seu grito com voz rouca
dizendo-se faminto e sem defesa;
antes, serei o pão à sua mesa,
serei seu anjo de feição barroca.

Em lugar de sermões, dizeres sábios
que rabisquem o choro nos seus olhos
e desenhem sorrisos nos seus lábios.

Vou ser amigo junto do seu cão,
levar seu barco longe dos escolhos
e no meu colo pôr seu coração.

Saudosa amizade - Márcia Jáber (Quinto lugar)

Sem querer, sempre volta essa memória,
perdida na lembrança empoeirada,
que esconde a lamentável, triste, história
de uma grande amizade abandonada .

Os balanços nos velhos arvoredos...
Livres pelas campinas... Pés no chão...
Unidos na amizade e nos folguedos,
mais que amigo, era tudo, era irmão!

Veio o vento da vida e nos soprou
para lados avessos do destino,
o tempo, tão veloz, nos separou

e pôs cinzas em tudo que restou.
Hoje, vive em minha alma o eu menino,
lamentando a amizade que findou.

Ilustres jurados desta edição: Edweine Loureiro, Rodrigo Poeta e Tatiana Alves.
Agradecimentos à Prefeitura de São Pedro da Aldeia, pelo apoio através da Secretaria de Cultura de São Pedro da Aldeia; agradecimentos à Editora Jogo de Palavras pelo incentivo, na pessoa do Escritor João Paulo Lopes de Meira Hergesel.
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Foram recebidas 563 inscrições. Desse total, 12 (doze) poemas classificados serão agraciados com a premiação do II PRÊMIO DE POESIA SPA.
           
A premiação se dará no primeiro semestre de 2019, em data a ser estipulada, a fim de que possam ser impressos os poemas dos poetas classificados. Cada classificado terá direito a dois exemplares da antologia de poemas e medalha de sua premiação no II PRÊMIO DE POESIA SPA.




Arena de todos, terra de ninguém


Arena de todos,
Terra de ninguém.
Espaço sem dono,
Terra sem lei.

Conflagração de desejos, turbilhão de emoções,
Despontam iras, desejos,
Muitas contradições,

Temores, medos, expostos em exaustão,
Por vezes camuflados,
Revelam inquietação.

Num momento caótico, de um mundo a mudar,
Tão veloz, tão intenso, sem direção certa a tomar.

Todos despedaçados querendo se juntar
Não encontram os pedaços que estão a buscar

Se remendam aos montes, sem nunca se servir
Se aturam não suportando nem sequer se ouvir

Fazem guerras pretextando desejos de paz
Mas por ela não lutam, nem tão pouco a trazem.

Se desmontam, remontam, inconstantemente a mudar,
De modo quase autômato, sem a inércia notar.

Vão seguindo no raso sem muito aprofundar
Nas questões mais internas que só fazem evitar.

Num constante autoengano, em autoalienação
Vão passando-se os anos,
Sem sentido ou razão

Sem sentir o concreto, em pura abstração
Sem atitudes concretas,
Só palavras em vão.

Robóticamente, já estão a viver
Não mais sendo humanos,
Mas outra espécie de ser.

Neste espaço que existe
Mesmo sem ser real
Que se tornou realidade no mundo virtual.